A Pastoral Operária em Piracicaba ressurge em virtude do contexto atual de retirada de direitos. Aliando a fé e cidadania, luta com e pelo trabalhador.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

O PENSAR Nº010



“Os povos indígenas são um grito vivo em favor da esperança. Recor­dam que nós, seres humanos temos uma responsabilidade compartil­hada com o ‘cuidado da casa comum’. Obrigado a todos vocês pela tenacidade com que afirmam que a terra não deve ser apenas explo­rada sem um objetivo. Obrigado por levantarem a voz para assegurar que o respeito ao meio ambiente deve ser sempre salvaguardado acima dos interesses exclusivamente econômicos e financeiros”.
Papa Francisco na 4a Reunião do Fórum dos Povos Indígenas, 14/02/2019.



GOVERNO INTIMIDA E AMEAÇA OS POVOS INDÍGENAS (VER)
Ymá Nhandehetama (Antigamente fomos muitos) “Nós sempre fomos invisíveis. O povo indígena, os povos indígenas, eles sempre foram invisíveis pro mundo! Aquele ser humano que passa fome, que passa sede, que é massacrado, que é perseguido, morto, lá na floresta, nas estradas, nas aldeias, esse não existe! Pro mundo aqui fora existe aquele indígena exótico, o que usa cocar, colar, que dança, que canta... Coisa pra turista ver. Mas aquele outro que tá lá na aldeia, esse sofre de uma
doença que é a doença de ser invisível, de desaparecer. Ele quase não é visto tanto pro mundo do direito, principalmente pro mundo do direito, como ser humano. Ele desaparece. [...] Ele volta novamente quando tem o conflito. Quando a mídia procura a notícia pra vender jornal: mostra o índio morto, o índio bêbado, o índio preguiçoso, como se vê em todos os livros. O índio que quer muita terra, o índio que tem muita terra, esse aparece. E aquele índio como ser humano, aquele que tem direitos, esse desaparece. Sempre desapareceu. Ele vai sumindo aos poucos. Dizem que nós vivemos na era do direito, que o Brasil é um estado democrático de direito. Mas, se o indígena [sic.], os povos indígenas que vivem no Brasil – é o mesmo Brasil que dizem que é um estado democrático de direito –, pro indígena esse estado não existe!”
MARTINS, Almires.Belém, 2009. In: MAYO, Nuria Enguita; BELTRÁN, Erick (Org.). Catálogo da 31a Bienal de São Paulo – Como [...] coisas que não existem. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2014.
 
    Sabe­-se que os povos indígenas sempre foram ameaçados por lati­fundiários pecuaristas ou produtores de soja que avançam suas produ­ções na floresta amazônica. Porém a situação atual é peculiar, pois trata­-se de uma declaração de guerra, por parte do governo de Jair Bolsonaro, contra os povos indígenas. Praticamente desde a sua posse passando sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura a demar­cação de terras indígenas nenhuma terra passou a ser demarcada, os processos foram paralisados, bem como as verbas que seriam destina­
das à gestão ambiental e etnodesenvolvimento. Além do mais, sem de­monstrar qualquer sinal de constrangimento, Jair Bolsonaro defendeu abertamente atividades de mineração e construção de hidrelétricas nes­sas terras, ameaçando também o estatuto das terras indígenas. De­monstra também, a intenção de integrar os indígenas a força e desrespeito total , conforme seu discurso no congresso em 1998, lasti­mando a cavalaria brasileira ter sido incompetente. “Competente, sim,
foi a cavalaria norte­americana, que dizimou seus índios”.
    O Brasil tem agora não apenas um presidente inimigo dos trabalha­dores, mas inimigos dos verdadeiros donos desta terra, os irmãos trabalhadores indígenas. Não é uma ilusão, mas uma ameaça real. Estranha­-se e suspeita-­se de uma eleição de um presidenciável com ta­manhas declarações em campanha ameaçadoras e antipopulares como já mencionadas. O enfrentamento nas ruas demonstra o tamanho do descontentamento e a impopularidade de Jair Bolsonaro e a discordân­cia com a sua política. Não de forma diferente, os povos indígenas tam­bém declararam guerra e que irão lutar até o fim na defesa dos seus direitos.


DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS POVOS
INDÍGENAS DA PAN­AMAZÔNIA (JULGAR)

    “Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: Onde está o teu irmão?, (Gn 4, 9). Não nos façamos de distraídos!
Há muita cumplicidade... A pergunta é para todos!”, intimou Francisco em seu discurso aos povos indígenas.
    O papa Francisco se encontrou com os povos indígenas em janeiro de 2018, em Puerto Maldonado, no Peru. Em seu discurso, disse que desejou muito o encontro. “Obrigado pela vossa presença e por me aju­dardes a ver mais de perto, nos vossos rostos, o reflexo desta terra. Um rosto plural, duma variedade infinita e duma enorme riqueza biológica, cultural e espiritual”.
    O santo padre ressaltou ainda que a cultura não indígena precisa da sabedoria e dos conhecimentos indígenas para poder penetrar – sem o destruir –, “no tesouro que encerra esta região, ouvindo ressoar as pa­lavras do Senhor a Moisés: ‘Tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa’”, (Ex 3, 5).
    Francisco louvou a Deus por toda a biodiversidade amazônica. E denunciou as ameças sofridas pelos povos originários por conta da de­ vastação socioambiental com “a ideologia extrativa, os grandes interes­ses econômicos cuja avidez se centra no petróleo, gás, madeira, ouro e monoculturas agroindustriais”. O papa condenou a ameaça contra os territórios dos povos originários que “vem da perversão de certas políti­cas que promovem a ‘conservação’ da natureza sem ter em conta o ser
humano. Frisou a realidade dos povos indígenas em isolamento volun­tário, o tráfico de pessoas, o trabalho escravo, o abuso sexual, a violên­cia contra mulheres e adolescentes. E convocou os povos indígenas: “É bom que agora sejais vós próprios a autodefinir­vos e a mostrar­nos a vossa identidade. Precisamos de vos escutar.
Por Osnilda Lima, fsp ­ Repam­Brasil



OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS (AGIR)
    Diante de tantos ataques e ameaças impostas aos índios, é funda­mental olharmos para a Constituição de 1988, que estabeleceu novos marcos na relação entre Estado, sociedade e os índios. Ela garante
respeito e proteção à sua cultura, reconhece seu modo de vida, de pro­dução, asseguram o respeito aos
costumes, línguas, crenças e tradi­ções. Podem buscar maior integra­ção, ou se manterem em suas aldeias. Direitos sobre suas terras são “direitos originários”, anteriores à criação do próprio Estado. Cabe à União proteger suas terras, a defesa judicial dos direitos cabe ao Ministério Público Federal, processar e julgar a disputa sobre direitos é competência dos juízes federais. Existem direitos à educação, saúde e outros mais. Te­mos portanto as leis, e temos os poderes federais e as instituições governamentais para agirmos em defesa dos índios. Temos também or­ganizações não governamentais, Missões e até mesmo a sociedade ci­vil que podem se manifestar em defe­sa dos povos indígenas. Em outubro deste ano acontecerá o Sínodo da Amazônia e terá como tema “Amazô­nia: novos caminhos para a Igreja e
para uma ecologia integral”. O objeti­vo é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos in­dígenas, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão do nosso planeta. 


DDD ­ DIA DO DESDEM
Dia do Meio Ambiente
Em nada comemoramos
O que outrora avançamos
Tornou involução atualmente

Áreas de preservação permanente
Correm risco de grande redução
Invertendo completamente
Definhando sua proporção

O código Florestal já sofrível
Alvo de ataque preferível
Caçador de animais festejou
E com margens transgredidas
A água do rio recuou

Parques nacionais incríveis
Estão na mira da ganância
Tratados sobre o clima
Virou gracejo, ignorância

Neste ranking ‘tamos por cima
No veneno em abundância
Não reduzir emissão de gases
Temos classe em impasses

Um ministro pego em falcatrua
Com mapas por ele adulterados
Com interesses acomunados
Para que ruralista usufrua

Coroando o dia da Natureza
Nesta frase com torpeza
Do empresário amigo de Jair
“Proteção ao Meio Ambiente
é o câncer do país”

O antídoto? LAUDATO SI

(Daisy Costa, 5 de junho de 2019)
 

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